O Marcos morava há sete quadras de casa. Não. Eu morava há sete quadras da casa do Marcos. Ele estava lá há muito mais tempo que eu. Um dia, o Marcos conheceu uma pessoa que se apaixonou por ele. Um dia, eu conheci uma pessoa que se apaixonou por mim. O Marcos também se apaixonou por esta pessoa. Perdidamente. Eu custei para me apaixonar por aquela pessoa, mas quando aconteceu, foi explosivo.
O Marcos descobriu que tinha câncer. A pessoa que ele amava ficou do lado dele. Eu descobri que não sou a pessoa mais forte do mundo. A pessoa que eu amava me deu as costas. Quando eu fui beijá-lo, ele me virou o rosto. O Marcos sofreu, passou por diversas cirurgias. O namorado do Marcos estava sempre lá, do lado dele. 24 horas por dia checando na saúde do Marcos. Eu sofri, passei por diversas fases. O meu namorado estava sempre lá, mas não estava lá. O tempo passou e eu gritei, pedindo amor. Com os olhos. 24 horas por dia eu sofria pela solidão, falta de sentimento.
O Marcos tava doente em seu sangue. Mas tinha o coração saudável. Eu tinha saúde no meu sangue, mas tinha o coração doente. O Marcos encontrou o amor da vida dele tão cedo. Eu ainda não encontrei o meu. Eu encontrei tanto sofrimento, tão cedo.
O Marcos morreu de câncer ontem. O cérebro dele parou, mas o coração dele continuou batendo. Vai ver, foi porque ele escutou o namorado dizendo "Eu encontrei a pessoa que amo, e que não vou desistir, nem por um segundo, da vida dele."
Eu morri há muito tempo. O meu cérebro ainda funciona, mas meu coração parou. Vai ver foi porque eu convivi com os olhos do despreso, no rosto de quem eu amei. Vai ver, foi porque eu ouvi “Nós temos que dar um tempo nestes nossos encontros”.
Acho que Deus errou a pedrinha que ele jogou na cabeça do Marcos. Errou sete quadras.